sexta-feira, 11 de março de 2011

Porque não vou à Manifestação

Não me vou alongar porque há quatro tópicos de conversa que aprendi a não abordar durante a minha curta existência: Futebol, Religião, Política e Lady Gaga.  São demasiado emotivos para se chegar a um consenso. Mas a verdade é que eu tenho o direito de não ir à Manifestação, como vocês têm o direito de participar.

E porquê? Embora considere a manifestação como uma das ferramentas supremas da Cidadania Activa - a par do Voto - considero que a actualidade política e social portuguesa é resultado óbvio da permissividade da população até há pouco tempo adormecida. Habituada a viver além das suas posses, a geração À Rasca (que ao que parece faço parte) chegou à conclusão de que tem de lutar pelo que acredita. Não me levem a mal: isto é realmente muito bom. Agora não creio que a mudança nasça de uma manifestação gratuita, quase tão fixe como a libanesa.

Sim. Devemos manifestarmos-nos. Devemos escrever reclamações nos livros amarelos desta vida. Devemos dizer basta, principalmente aqueles que realmente vivem à rasca. O que não será o caso da maioria dos manifestantes de amanhã, com os seus ipods e smartphones nos bolsos, que muito certamente terminarão a noite de sábado a beber copos no Bairro para depois ir no seu carro até ao Lux. Lamento... mas não me revejo.

E sim. Pertenço à chamada geração à Rasca e sou jornalista. Uma das muitas profissões precárias que há por aí. Mas orgulho-me de nunca ter estado a recibos verdes. De nunca ter exercido de graça, embora tenha começado a trabalhar por menos de 500 euros. E ainda hoje não ganho por alí além mas significa apenas menos uma vez que janto fora. Sempre trabalhei muito e fui colhendo os frutos pela minha persistência. E, graças a deus nosso senhori, tenho saúde para continuar a trabalhar. Amanhã, sábado, enquanto estiver a decorrer a manif, eu estarei em reunião para tentar assegurar mais um trabalho de 300 euros por mês. Não é muito, é certo. Mas pelo menos não ando à rasca.

14 comentários:

  1. sejam meiguinhos. Sei perfeitamente que há muita coisa errada na sociedade. Leis laborais, patrões que exploram, a tirania dos recibos verdes, falta de oportunidades and so on... mas também há muita boa gente que não gosta de trabalhar.

    ResponderEliminar
  2. Concordo em pleno contigo. Eu só iria a essa manifestação se o "mote" fosse.

    Direitos, obrigações e deveres. Só que a maioria dos portugueses só se lembra dos direitos.

    Geração rasca?! O Gonçalo tem 23 anos, quem me dera falar com pessoas mais velhas e com a mesma qualidade de diálogo. E, mais não digo...

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. Estou contigo rapaz... :) E mais não digo... Futebol, Religião, Política e Lady Gaga não merecem o meu tempo e palavras. ;)

    ResponderEliminar
  4. Estou desiludido com o que dizes, não por ti, mas porque o compreendo perfeitamente.

    Penso que por vezes nos temos de abstrair dos nossos próprios pensamentos. Eu não tive as mesmas oportunidades que muitos colegas meus tiveram e têm, e uns quantos vão lá de garrafa em punho (digo eu, quem sabe). Mas enquanto protestarem pelos nossos direitos em vez de estarem a gastar o dinheiro dos pais e dos contribuintes numa faculdade em que só fazem uso do estatuto de "Universitários", eu estou em paz com eles. (Tens noção que as propinas não chegam nem para metade das despesas anuais nos laboratórios de química, bioquímica e microbiologia!?)

    Pah... Eu tenho um smartphone há ano e meio mas foi-me oferecido, por isso espero que isso não conte! XD

    Para terminar e mais a sério. Este semestre tem sido extremamente complicado para mim, trabalhar, estudar e receber menos de bolsa...

    Há uns tempos recebi o doc do trabalho para o IRS e digo-te que para um rendimento anual que não chega a 3000€, eu devia é ser ministro das finanças, que já chorei tudo o que tive a chorar com medo de um dia me faltar alguma coisa.
    Restam-me os amigos que ajudam.

    E mais jovens estão na mesma situação que eu, para não falar dos que estão piores, aqueles que nem dinheiro para comer, quanto mais estudar... Que foi durante uns anos um problema com que me debati (que eu não seja dramático, não me faltou comida na mesa, mas propinas estavam fora de questão).

    Portanto, as coisas não devem ser vistas por um prisma negativo quando se trata de um movimento destes. E é de louvar ser algo sem partidos por trás. Prova que somos capazes de nos organizarmos...

    ResponderEliminar
  5. Também não vou participar porque, como já referi noutro blog, penso que seria hipócrita da minha parte (por muitas das razões que enunciaste, mas sobretudo porque a vida até me tem sorrido!).
    Quanto muito poderia participar por solidariedade com quem não teve a minha sorte.
    Mas compreendo quem vai e sobretudo, se tudo correr bem, espero que seja mais que tudo uma manifestação de revolta pelo estado das coisas.
    Pode ser utópico, mas grandes mudanças no Mundo começararam com a vontade de muitos jovens.
    Por isso, que amanhã seja o início de algo diferente é o que eu desejo.
    Ah, e compreendo perfeitamente a tua posição.

    Abraço,
    Ikki

    ResponderEliminar
  6. ahahahahah amei a parte do discutir lady gaga :-D, mas olha o blog é teu, podes muito bem falar e transmitir sem medos a tua opinião sobre o que quer que seja!!!! Nunca te prives disso!

    E embora discordemos sobre a bendita da Gaguita o facto é que concordo tanto contigo neste ponto ( e em muitos mais). Usaria tudo o que disseste e muito mais...é um tema muito muito muito denso e complexo. É de índole sócio-politico-cultural...

    ResponderEliminar
  7. Manifestações per si,já me enervam um pouco,não participo e uma das razões é a vergonha!Vergonha sim,mas vergonha alheia,pois é sempre alguém entrevistado que só consegue dizer qualquer coisa como:"Opá,a gente estamos aqui porque isto está tudo mal e temos que reclamar,tem de ser,que a mim niguém me cala!"- nice,adoro,isto quando não falam de assuntos que nada têm a ver com a bendita da manifestação...Dica útil: primeiro vamos aprender sobre o que vamos protestar,boa?
    Porque isso de ser de esquerda,tudo legali,apoio,agora rebeldes sem causa...menos,muito menos.

    Já noutra prespectiva...tenha tido todas as oportunidades na vida de mão beijada ou não,penso que não tira o direito a ninguém a lutar pela mudança daquilo que acha que está mal, ninguém tem culpa de como nasce...

    E estou contigo,quando quis sair da bolha de conforto dos papás fiz-me à vida,batalhei e continuo a batalhar diariamente por aquilo que quero.

    Bottom line,estou com o outro: "não perguntes o que é que o país pode fazer por ti,pergunta o que é que tu podes fazer pelo país".

    ResponderEliminar
  8. boa sorte para a reunião, eu irei à manif, e o facto de acabar no bairro alto não quer dizer que fiquem por lá, mas podendo ficar isso iria acontecer com ou sem manif.

    ResponderEliminar
  9. Discordo contigo somente num aspeto... eu orgulho-me de ter trabalhado em recibos verdes. Desde que larguei o banco da faculdade já trabalhei diversas vezes a recibos verdes, e não me queixo. É verdade que acumulei sempre essa atividade com um contrato estável, portanto com alguma cobertura social, mas não acho que trabalhar a recibos verdes seja motivo de embaraço. Alguns dos melhores profissionais com que lidei não querem outra coisa.

    ResponderEliminar
  10. Eu não vou à manifestação, porque já não sou jovem, nem compreendo que haja uma geração à rasca; pode haver e há com certeza muito boas razões para protestos, mas também há muita juventude que não dá um passo para sair da situação em que se encontra...e depois protesta.
    Estou curioso de ver a "constituição" das pessoas que vão à manifestação...

    ResponderEliminar
  11. Uma vez que a opinião é livre, tenho algo a dizer quanto às "manifestações". O direito à manifestação é constitucionalmente consagrado. Cada um manifesta-se à vontade. Todavia, a culpa do estado a que chegou Portugal é inteiramente dos portugueses. A classe política pós 25 de Abril só chegou ao poder por via de eleições democráticas. Uma vez que o povo é soberano, a conclusão parece-me evidente...
    Não pertenço à "geração à rasca" porque não me sinto "à rasca", mas mesmo que me sentisse não iria participar. Duvido que a "tal" manifestação produza resultados. Se os produzir, tanto melhor.
    No fundo, o problema de Portugal é a sua Constituição. Ao contrário da maioria dos estados europeus, a Constituição Portuguesa de 1976 promete mundos e fundos à população, nomeadamente que todos têm direito ao trabalho (artigo 58º). Por este motivo, as pessoas sentem-se no direito de exigir trabalho e o fim da precariedade. O Estado vinculou-se a esse dever e, como é previsível, não o conseguiu cumprir. A Constituição era ótima num Estado rico, mas a verdade é que Portugal é pobre. Não pensem, os manifestante, que Portugal poderá fazer muito por eles. A mudança deve vir de baixo e é assim que se constroem as sociedades do bem-estar. ^^

    ResponderEliminar
  12. Desde bem cedo que trabalho. Contratos de trabalho, avenças e contratos de prestação de serviços.
    Há um bom “punhado” de anos que parte dos meus rendimentos provêem de RV e, recentemente, facturas (rendimentos empresariais). Se estaria melhor a contrato, neste momento não sei. De uma coisa sei, não são os meus clientes que me impede de trabalhar com A, B ou C. Com um contrato de trabalho, não sei não!
    E porque há coisas para fazer, vou trabalhar um bocado.

    ResponderEliminar
  13. Estamos de acordo contigo. E se disséssemos em voz alta, aqui, quanto ganhamos os dois (não o fazemos porque quase temos vergonha), certamente veriam que quem "está" à rasca somos nós - que até nos conseguimos governar e viver a vida com muito gozo!...

    ResponderEliminar
  14. Bolas, só não fui porque tenho um i-pod e sou gajo para ir dançar para o Lux num sábado à noite... Se alguém sentiu a falta desta "uma pessoa" vou dizer para pedirem as explicações a ti. :p

    ResponderEliminar