terça-feira, 23 de julho de 2013

Eu sei que tu sabes que eu sei

Sei o que vais comentar depois de ler este desabafo. Palavras recriminatórias, talvez. Um conselho de vida, já descoberto ou seguido por ti, mas que ainda não sigo. Simplesmente talvez não me faça sentido. Ainda. Mas o episódio, passado há dois dias, continua a ecoar na minha cabeça. Uma eterna surdina que insiste em pesar-me a consciência. O meu namorado passou o fim-de-semana cá em casa. Mais um de entre tantos que já passamos. No final da noite de domingo, tarde, ele descansava no meu sofá. O meu telefone tocou. A minha irmã, que tem um apartamento dois andares abaixo do meu, precisava de um simples utensílio de cozinha. Acedi, naturalmente, a que o viesse buscar. Então fez-se luz, ou mais correcto, escuridão na minha capacidade de julgamento. Pedi ao meu namorado que recolhesse ao quarto. Que se escondesse. Ele compreendeu. Aceitou. Não protestou. Depois não pedi desculpa. Não senti necessidade. Mas senti vergonha. Praticamente cinco anos e continuamos neste jogo infantil. A minha irmã até já sabe. Até já o conheceu e por diversas vezes cruzamo-nos no corredor ou partilhamos o elevador a horas impróprias para visitas de simples amigos. Mas tê-los declaradamente na minha sala, no meu próprio refúgio, deixou-me ansioso. E protelou-se o que já é óbvio.

22 comentários:

  1. os irmãos a viverem no mesmo prédio?
    vês como não comentei o que querias que eu comentasse? ;)
    tu sabes e sentiste bem isso e só tu podes resolver, não vale a pena bater no ceguinho...


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  2. Aconteceu, nunca tinhas sido colocado nessa situação e não reagiste "da melhor forma". Tiveste medo. Agora compensa-o se for essa a tua vontade. Convida a tua irmã a jantar lá em casa com ele. Afinal se o queres na tua vida e a tua irmã já sabe, já será altura não? Qual é o mal? Ele vai gostar certamente, é uma prova de confiança e as relações evoluem e têm de evoluir, certo?
    Força, nada é irreversível para além da morte :)

    Abraço

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    1. já falamos sobre o assunto e ele diz que não sente a necessidade de ser compensado. Enfim... isto vai lá. Abraço

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  3. Já dizia a minha avó ou as nossas: "Não vale a pena chorar sobre o leite derramado..."

    Creio que deves rever as tuas prioridades de vida... Isso, só tu o poderás fazer :D

    Tenho dois ombros e um colo amigo...

    Abraço amigo Gonças :D

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    1. lá estás tu a oferecer o colo. És perigoso amigo Xico :)

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  4. Acho que consigo ter uma pequena ideia do que sentiste. Creio ser um pouco como tu...

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    1. Má decisão, sem dúvida. É a minha casa... tenho de me sentir seguro nela, não é?

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  5. Não tens de te culpar. Simplesmente ainda lidas mal com essa situação. Claro que é difícil viver assim e manter as falsas aparências por tempo indeterminado. Terás de ser tu a pôr um ponto final a essa ansiedade e constante recriminação.

    abraço, tartaruguinha.

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    1. É o que digo... os principais homofóbicos somos nós mesmos. Abraço Marquito

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  6. Se a irmã já sabe, deve ser a melhor altura para avançares! :) Força! É tão bom estarmos à vontade (sem segredos) com aqueles que amamos.

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    1. Sem dúvida. Um crescimento pelo qual ainda tenho de passar

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  7. Não sei que te diga.
    Sabes que sou um defensor total da abertura dos gays à sociedade e eu sou-o a 100% na minha vida desde há já bastante tempo.
    Depois do que contas, e eu até me abstraio do facto da tua irmã já o saber, segundo dizes, e por que amas o teu companheiro e ele merece isso da tua parte, só podes seguir um caminho, até porque tens vida própria e não ficarás dependente de ninguém pelo facto de uma não aceitação total, que será, se existir, não permanente.
    Eu estou a dizer isto tudo, mas já vivi na pele uma situação semelhante à que relatas, mas do lado oposto, e por isso te posso dizer que fiquei, não zangado, porque amo o Déjan, mas muito, muito triste por ele me ter fechado numa quarto, enquanto recebia um irmão numa sala, no seu apartamento de Belgrado.
    Sei que há diferenças e não estou a pôr atenuantes à atitude do Déjan, que quando me "libertou", se agarrou a mim a chorar, a pedir desculpa, eu sei lá mais o quê. E tudo porquê? Porque a Sérvia, infelizmente e nesse campo está muito longe de ser o país que Portugal é, há uma homofobia monstruosa, o irmão dele é médico e considera a homossexualidade uma doença, e o Déjan depende até daqui a um ano, talvez menos, do pai dele.
    Todos os seus amigos são salvo um, mais "open mind", perfeitamente homofóbicos e o Déjan sofreria muito se se assumisse lá, como se assume cá ou noutro sítio em que estejamos.
    Só não entendo uma coisa, e com toda a sinceridade, e é acerca dos amigos, pois o pai e o irmão não os conheço; todos eles, os seus 4 a 6 grandes amigos, os conheço, convivo com eles sempre que lá vou, gostam muito de mim, tratam-me muito bem e não desconfiam porque um tipo tão mais velho que o Déjan vá todos os anos lá visitá-lo?
    Enfim, lá eu tenho que me sujeitar, é esse o termo, a uma vida dupla, a um teatro que a minha personalidade custa muito a aceitar, e o Déjan sabe disso e talvez ainda lhe custe mais a ele.
    Mas não havendo estes obstáculos entre vocês, resolve a situação quanto antes pois é muito penosa para ambos, eu sei disso.
    (desculpa o testamento, mas eu tinha que te contar isto).

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    1. Como sempre João, os teus comentários são sempre cheios de bons conselhos. E, claro, bem fundamentados com a tua própria experiência o que os reveste de maior valor. Concordo em pleno com o que dizes e sei que o principal preconceito vive dentro de mim. Acredito que a minha situação mude muito em breve mas terei de ser eu a iniciar o processo. Forte abraço, sempre, sentido e obrigado mais uma vez por partilhares algo tão teu no meu espaço.

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  8. O que tu fizeste foi muito mauzinho, é uma facto. No entanto, eu melhor do que ninguém para perceber, até porque já estive no lugar do teu namorado e já me mandaram para o quarto. Eu acho que tens de estar em paz contigo mesmo para te abrires sobre o assunto aos familiares. E, claramente, não estás! Sentiste o teu porto de abrigo um pouco ameaçado e recuaste, não foste capaz....apesar de ser uma situação constrangedora, agiste como eu teria agido, sem dúvida.

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  9. Tartaruga... não te recrimines... são coisas que acontecem. Fomos todos educados para uma realidade... vivemos outra. Não é imediato essa aceitação da real realidade. Se o teu namorado percebeu e tu percebeste que era uma tontice, então... da próxima pode ser que não aconteça... e se acontecer, tudo bem, resolvas na vez seguinte. :)

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    1. Espero bem que sim. Pelo menos não vou ter a mesma atitude, isso garanto

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    2. não stresses... um dia vai-te sair naturalmente... como te saiu agora esconderes o miúdo. :) Dá tempo ao tempo ;)

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  10. já passei por isto, e depois me senti muito culpado, ainda bem que os anos vao nos mostrando quem são as pessoas importantes em nossas vidas e a quem devemos amor! hoje tenho tudo ás claras!
    obrigado por dividir conosco seus pensamentos, nos faz pensar ate em nossas vidas!
    abs

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