quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Decidir morrer

Um amigo meu suicidou-se. Ainda ninguém encontrou respostas, razões que nos ajudem a compreender o que o levou a colocar um ponto final na sua vida. Ele parece que não as deixou. Sabemos apenas que ontem decidiu ir para a Ponte 25 de Abril e saltar para a morte. Foi esta a mensagem disseminada ao limite por messenger e facebook durante toda a tarde. Em cinco minutos, tinha sete janelas de pessoas com quem já não falava a séculos a darem-me a notícia. É engraçado como as notícias más correm rápido. É ridículo como foi necessário alguém morrer para dar um "Olá".

Ninguém sabe o que lhe pesava no coração. Ninguém sabe se estava na posse das suas faculdades. Vai-se lá saber o que o atormentava. Matou-se. Será que sentiu paz naqueles instantes finais? Será que se arrependeu?

Não compreendo porque alguém comete suicídio. Não o consigo aceitar e talvez nunca o venha a entender. Soa-me a cobardia da mais reles que existe. Desistir de viver enquanto tantos outros morrem prematuramente ou sem uma hipótese de combater a morte, seja por doença ou acidente, é a meu ver fraqueza de carácter. Só o aceito em caso de doença mortal e quando o simples viver é penoso. De resto, mete-me nojo. Sou sincero: não consigo sentir pesar por ele. Sinto-me revoltado.

Tinha 30 anos e já não o via aos anos. Depois da faculdade, perdemos contacto. E a memória que guardo dele remonta à viagem de finalistas ao Brasil. Passou quinze dias inteiros a tirar fotografias aos rabos das brasileiras, estrangeiras e próprias colegas. Depois deu bronca da grossa quando ele gabou-se às miúdas da turma. Uma vez otário....

11 comentários:

  1. wooow :|

    Bem, numa coisa concordo contigo... suicidio é cobardia!

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  2. Permitam-me discordar.Nem sempre.
    Suicídio é uma forma de acabar com a dor...à custa da própria vida.
    Por insano que pareça...é preciso coragem para o fazer de forma consciente e deliberada.
    Ninguem sabe o que se passou na cabeça desse jovem.
    Mas foi algo que só a ele disse respeito.
    Ana

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  3. Ana, tens todo o direito a discordar e a tua opinião é válida. Como referiste, ainda não sei o que se passou na cabeça dele.
    Compreendo o teu ponto de vista e acabo por concordar: Só ele tem direito a decidir sobre a sua vida e, neste caso, morte. Mas, infelizmente, um acto desta natureza - inesperado e dramático - tem repercussões muito além do simples morte. Seria egoísta pensar que não tem graves consequências também para quem o rodeia.

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  4. Nunca podemos ajuízar, sem cometer injustiças, sobre os motivos que levaram alguém ao suicídio.

    A Igreja Calótica rejeita os suicidários - lembro-me de a minha me contar, quanto iamos ao cemitério onde estava a avó, que um primo que se suicidou, a urna entrou pelos muros altos do cemitério, porque a Igreja proibia o uso da portão - não lhe fazendo o enterro católico.
    Apesar de nem sempre os padres seguirem as regras, e passarem por cima da lei, essa é uma das normas do código canónico.

    Também os velhos partidos comunistas, explusavam, os seus membros que se tinham suicidado.

    Na zona de Setúbal, na crise de 1983, muitos foram os puseram termo à vida. Sentiam-se
    perdidos .

    No Alentejo, continua a ser a zona do país, com a mais alta taxa de suicídio nos idosos. Parece ser já uma questão genética.

    Qualquer que seja a razão, e apesar de defender o "direito ao suicídio", ele só acontece porque os suicidários perderam a solidariedade, o amor, o carinho, a ternura, de quem amavam. Às vezes bastaria uma hora ou duas de "janela" antes do acto, de desabafo, até com um desconhecido, para a "determinação de saltar da ponte" se sumir na maré vaza...

    Se calhar, quantas das pessoas que nos dirigem a palavra na via pública, e que não conhecemos de lado nenhum, não estão mais do que fazer essa "descarga aliviatória"...

    Quando recebemos a notícia de alguém que é, ou próxima, devemos, antes de mais, tentar saber se não poderiamos ter-lhe dado os 5 minutos de atenção, antes de o condenarmos pelo acto.

    Outras vezes não é possível: Recentemente apareceu morto o antropólogo angolano RUY DUARTE de CARVALHO, de 69 anos.Ainda não se sabe a causa da morte, e há quem leia nesta frase da sua autobiografia, uma mensagem:
    "Mas uma das questões
    pessoais que se me anda agora, com a idade, a por com mais frequência, é a de saber se será possível continuar a envelhecer sem
    sucumbir de todo a uma senilidade insuportavelmente azeda ou sem incorrer também numa dessas beatitudes patetas e patéticas que
    pretendem fundamentar-se numa sabedoria qualquer que a idade acumulada por si só garantiria."..."E, o resto, são
    umas ideias minhas que ando ainda cá com elas. - Ruy Duarte de Carvalho."
    http://www.livroscotovia.pt/autores/c/c_8.htm

    Quem poderá saber?

    António

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  5. Nunca podemos ajuízar, sem cometer injustiças, sobre os motivos que levaram alguém ao suicídio.

    A Igreja Calótica rejeita os suicidários - lembro-me de a minha me contar, quanto iamos ao cemitério onde estava a avó, que um primo que se suicidou, a urna entrou pelos muros altos do cemitério, porque a Igreja proibia o uso da portão - não lhe fazendo o enterro católico.
    Apesar de nem sempre os padres seguirem as regras, e passarem por cima da lei, essa é uma das normas do código canónico.

    Também os velhos partidos comunistas, explusavam, os seus membros que se tinham suicidado.

    Na zona de Setúbal, na crise de 1983, muitos foram os puseram termo à vida. Sentiam-se
    perdidos .

    No Alentejo, continua a ser a zona do país, com a mais alta taxa de suicídio nos idosos. Parece ser já uma questão genética.

    Qualquer que seja a razão, e apesar de defender o "direito ao suicídio", ele só acontece porque os suicidários perderam a solidariedade, o amor, o carinho, a ternura, de quem amavam. Às vezes bastaria uma hora ou duas de "janela" antes do acto, de desabafo, até com um desconhecido, para a "determinação de saltar da ponte" se sumir na maré vaza...

    Se calhar, quantas das pessoas que nos dirigem a palavra na via pública, e que não conhecemos de lado nenhum, não estão mais do que fazer essa "descarga aliviatória"...

    Quando recebemos a notícia de alguém que é, ou próxima, devemos, antes de mais, tentar saber se não poderiamos ter-lhe dado os 5 minutos de atenção, antes de o condenarmos pelo acto.

    Outras vezes não é possível: Recentemente apareceu morto o antropólogo angolano RUY DUARTE de CARVALHO, de 69 anos.Ainda não se sabe a causa da morte, e há quem leia nesta frase da sua autobiografia, uma mensagem:
    "Mas uma das questões
    pessoais que se me anda agora, com a idade, a por com mais frequência, é a de saber se será possível continuar a envelhecer sem
    sucumbir de todo a uma senilidade insuportavelmente azeda ou sem incorrer também numa dessas beatitudes patetas e patéticas que
    pretendem fundamentar-se numa sabedoria qualquer que a idade acumulada por si só garantiria."..."E, o resto, são
    umas ideias minhas que ando ainda cá com elas. - Ruy Duarte de Carvalho."
    http://www.livroscotovia.pt/autores/c/c_8.htm

    Quem poderá saber?

    António

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  6. Obrigada pela sua resposta.
    Eu não quis dizer que o suicídio é um acto "justo" quer para o suicida, quer para os que o rodeavam.
    Todos nós podemos dispôr da vida.
    Deixá-la é também um direito que nos assiste.
    Creio que o que leva a um suicídio, nos termos que referi no meu comentário, é algo tão terrivel que humanamente não se suporta.
    E nesse "auge" o suicida sente justificado o seu acto.
    Se é justo para quem ficou? Penso que não.
    Mas, mais uma vez, quem pode julgar se nunca sentiu a intensidade de tal sofrimento?
    Ana
    Ana
    Ana

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  7. Nunca poderei compreender o suicídio...

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  8. o suicídio não me é um completo mistério. houve até alturas em que achei que é preciso muito coragem para se acabar com a vida com sucesso, porque já tive um namorado que era só ameaças. em vez de cortar os pulsos devia ter escolhido a ponte... mas tinha de ter carro, não é?
    bem, quanto ao teu amigo, nem sei o que dizer, mas o episódio com que findas o texto é exemplar de boa grunhice.

    abraços

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  9. Por viver numa zona onde a taxa de suicído é elevada, é tema recorrente no quotidiano, e acaba por ser uma coisa que "já faz parte".
    Mesmo assim é-me difícil compreender e aceitar, mesmo quando se sabem as supostas causas que levaram as pessoas a matarem-se e mesmo tendo tido pessoas na família que o fizeram.
    Também apenas o consigo entender em casos de doenças graves e debilitantes.
    Fora isso é um misto de cobardia/coragem/alívio/tranquilidade/egoísmo....

    Sobre o assunto deixa-me sugerir-te um livro: "E se eu gostasse muito de morrer", do escritor, jornalista e argumentista Rui Cardoso Martins, (que por acaso é meu conterrâneo), e que escreve este romance com nomes/alcunhas que são verdadeiras bem como as situações, e que são tema de conversa no café da "província dos suicidas, uma cidade em que até onde o coveiro se mata".
    O livro vale muito a pena.
    Abraço.

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  10. Obrigado a todos pela vossa partilha. É mesmo daqueles temas em que não é possível estarmos todos de acordo. Apenas concordamos no ponto em que a vida é demasiado preciosa para se abdicar dela, sem pelo menos, tentar ou pedir ajuda.

    Mike, já está encomendado. Amanhã começo a ler. Obrigado pela sugestão e depois faço a crítica.

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  11. Eu acho que não devemos julgar quem se suicida. Porque quem o faz tem - sem dúvida nenhuma - um motivo forte para o fazer. Portanto, o que deveríamos julgar é a sociedade e, mais especialmente, as pessoas mais próximas do suicida. Ele soube - como ninguém - o motivo que o levou ali e a consumar esse acto. Mas há que entender que o suicídio não é necessariamente uma forma de por fim a si próprio, podendo ser a forma menos má de por fim a todos os quantos sustentavam alguma situação insustentável. Um suicídio não se julga. Lamenta-se!

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